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O que se perde quando “perdemos” alguém?

Luto

É assim que nos sentimos quando a morte acontece com alguém muito significativo e amado: perdidos, vazios de sentido, impotentes, desamparados; ela não pede licença, muitas vezes não espera que possamos nos despedir, dizer uma última vez que amamos, e o quanto as pessoas são importantes em nossa vida, não dá tempo de entregar o presente, de ver o neto crescer, formar, casar, e tudo fica tão diferente, inclusive nós mesmos, e de forma muito “louca” permanece tudo exatamente como estava em instantes atrás.

Acabo de lembrar da minha experiência como enlutada, e a primeira vez que fui tomar banho na casa dos meus pais, após a morte do meu pai em dezembro de 2020. O shampoo que meu pai usava e que eu gostava de compartilhar quando tomava banho lá estava exatamente como ele deixou. A minha vontade era de que ninguém mais usasse aquele shampoo e de alguma forma “congelasse” o tempo como no instante em que ele havia usado pela última vez. Na verdade era uma forma de tentar manter inalterada uma realidade que já havia sido imposta e alterada pela partida do meu pai.

Porque o deserto do luto é isso, você não escolhe estar ali, você é lançado para esse lugar desconhecido, e você sequer sabe qual o impacto que será sentido e vivido, afinal… tudo muda. E nessa travessia vamos precisar contar com os recursos que temos: apoio de amigos, familiares, nossa espiritualidade, nossa terapia e assim fazer essa travessia pouco a pouco. Passamos a viver em mundos paralelos, “o antes'' - o que tínhamos, e “o depois” - o que passamos a conhecer. É desafiador assimilar que o que sempre esteve ali, agora não estará, que tudo o que for experienciado a partir de, terá o tom da ausência.

A morte de alguém amado com certeza traz muitas perdas associadas; perdemos os papéis que exercíamos nessa relação, perdemos o que essa relação nos trazia, como por exemplo a segurança, perdemos a referência do que os nossos olhos alcançavam; e o olhar da pessoa amada também reassegurava quem somos. E por esta razão também nos sentimos tão perdidos de nós mesmos e não nos reconhecemos. Vamos aos poucos reajustando a vida nesse processo de transição; os sonhos, os projetos, tomam um ritmo que não é definitivamente o tempo do “chronos”, ou seja, o do relógio, mas sim o tempo da dimensão do interno, do sagrado.

A forma mais corajosa de olharmos para essa experiência é compreender que nós não perdemos, porque há algo que a morte não consegue e na verdade nem tem a intenção de fazer… que é apagar, retirar do coração e da memória, as lembranças, aquilo que vive em você. Por que você pode sim, perder uma carteira, um objeto, mas jamais perdemos alguém que está incorporado na nossa vida e no nosso viver através da biografia e do que foi vivido, da narrativa dessa história de vida e que permanecem e aquecem os dias difíceis.

A morte não leva tudo, ela não vence tudo, não deve destruir tudo, a morte é sim radical, absoluta…Mas, o amor minha gente, ah, esse sim é potente, é mais, muito mais, porque ele vive para além do que se vê, ele transforma a tudo e a todos. O amor é aquela imensidão de encontros mesmo na ausência física, onde você sabe muito bem que tudo valeu a pena, cada minuto, segundo, cada instante. O amor é esse elo que une as pessoas por toda a existência, ainda que, essa pessoa não esteja fisicamente. Porque o amor é para sempre!



Vocês vivem em mim!! (In memoriam à todas as pessoas da minha vida, que já partiram).



Por: Patrícia dos Santos

Psicóloga CRP 12/10686

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