O texto saiu hoje dia 14, dois dias depois da data que foi instituída como Dia Nacional em Homenagem às Vítimas da Covid-19. Precisei de um tempo para entender como eu mencionaria esse dia que representa uma forma de homenagear as vidas que se foram, e o luto de tantas famílias. 

Então decidi começar com parte da minha história:

Essa foto que ilustra o texto que eu, com nó na garganta, escrevo à vocês que acompanham as publicações do Serviço Social Boa Vida, é a foto do meu pai, Sr. Wilson dos Santos. Esse homem alegre, inteligente, bondoso, que arrancava boas risadas de quem por perto estivesse; adorava dar umas "dicas", deixar a TV dos vizinhos e parentes funcionando redondinho. Ah! que saudade dessa risada, :( saudade de quem eu era, ao me sentir segura sabendo que ele estava lá, sempre que eu precisasse. Saudade de deitar no sofá da casa dos meus pais, nos domingos de inverno e meu pai vir com um cobertor “filha te tampa, tá frio, dorme um pouco aí, descansa”. Saudade do teu silêncio que preenchia o espaço, quando tirava aquele cochilinho após o almoço, pois, eu sabia que acordaria para me despedir e dizer até domingo que vem pai, com um beijo no rosto… agora já não haverá o próximo domingo contigo. Saudades de tudo!

Meu pai faleceu, no dia 04/12/2020, um dia após seu aniversário; completou 65 anos, internado, entubado, não teve bolo, nem balão, não pude dar o beijo e o abraço que tanto gostaria, e ele também não pôde receber todo amor e carinho que todos gostariam de manifestar…uma sequência de NÃOS. Não teve a oportunidade de tomar a vacina, que trouxe esperança para um país amedrontado pelo avanço do contágio, dos sintomas agudos e pela letalidade da doença em alguns dos seus. Não segurei sua mão no hospital, não toquei seu rosto na despedida, e não me parece ter algo que traga conforto diante dessa privação.

Meu pai, assim como tantos pais, mães, filhos, irmãos, tios, primos, avós, amigos, conhecidos, vizinhos, somam mais de 700 mil mortes no Brasil. Vidas que sim minha gente, importam e muito. E aqui eu pego emprestado a escrita da médica Ana Cláudia Quintana Arantes: “Pandemia Covid - quando a humanidade descobriu que porcentagem de mortalidade é sempre 100% quando morre alguém que a gente ama”.

É sobre isso, quem perdeu alguém amado para a Covid, perdeu 100%. Não há estatística para quem perdeu alguém na pandemia.

Hoje, neste espaço, quero deixar registrado meu ABRAÇO e CARINHO para cada família (a sua e a minha), cada enlutado, e olha que precisa de uma imensidão de abraços aqui, porque sim, nos tornamos um país de enlutados.

A gente segue; porque precisa, porque escolheu seguir, uma parte nossa importante se foi... junto com quem partiu. A Covid e todo sentimento que permeia a história de cada família, cada pessoa que foi em alguma medida tocada direta ou indiretamente, há algo que ressoa, ecoa, na alma, no coração e na história de perda e de vida daqueles que continuam essa trajetória, seguem com seus trabalhos, planos, objetivos, e honram quem tanto amam e que para sempre serão lembrados, não só neste dia, mas em todos os outros dias.

O amor, sempre será um forte motivo para continuar, o amor que sentimos por aqueles que se foram, e por aqueles que aqui ficaram, e por você mesmo! Pois, você também é o amor de alguém…eu garanto!

Receba meu abraço sincero!

Patrícia dos Santos - Psicóloga CRP 12/10686